Poema: O Saudoso guardador das reses

O saudoso guardador das reses
Bem sei que o moço corpo nesta sala
É parte de objetos: mesa, vaso,
cadeiras e a estante de verniz...
E a cidade cerca o véo fundo
do pensamento livre destes ciscos...
Às vezes largo a pressa e o olho baço
percorre a extensão da pele enxuta,
e julgo ali rever o amado sítio
hoje pousado sobre relembranças...
Nas tardes, se vou só, prossigo a luta
para o retorno àquele tempo,
idade inusitada em terras desse nunca
-mais. Contudo em minha pele tento criar,
há muito tempo, um boi...
Bem sei que o moço corpo nesta sala
É parte de objetos: mesa, vaso,
cadeiras e a estante de verniz...
Porém, vos digo: o gado me persegue até agora
e eu cheiro o seu estrume,
só o detém aqui os edifícios,
que os homens erguem contra o bucolismo...
À noite, durmo um nada, suportando berros
de cabras no palheiro d'alma...


(In de Camargo, Oswaldo - 15 Poemas Negros,1959, SP.)

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